terça-feira, 1 de outubro de 2013

CARROÇA A FRENTE DOS BOIS OU MANIA DA CÓPIA PURA E SIMPLES?

CARROÇA A FRENTE DOS BOIS OU MANIA DA CÓPIA PURA E SIMPLES? Caro Dr. Macuva, O nosso debate ─ que espero construtivo ─ peca por tardio, na medida em que tem vindo a aclarar, ainda que cada um a seu jeito, as diferenças de monta (diria, insanáveis) que temos sobre o principal papel da nossa associação na construção de uma cidadania activa. Desde logo, não quanto a forma, mas sobretudo no que toca à substância. Gostaria todavia elencar algumas notas prévias: 1. A minha última abordagem (“Cidadania: a minha Palavra”) serviu como tentativa (minha) de recentrar o foco do debate, que foi entretanto, enviesado pela opção, de ao invés de apresentar desculpas formais (ou simplesmente atacar os factos), na reacção que teve ao Comunicado divulgado, enveredar pela estratégia do ataque mais vil e deplorável à imagem dos seus confrades com acusações infundadas e baratas (como quando dizia que lhe disseram que eram disso e daquilo, ou tal blá, blá e outros vitupérios), adjectivando–nos da pior forma possível, baixando mesmo a um nível que não lhe reconheço(e disso não houve pedido de desculpas também); 2. Embora tenhamos mantido da nossa parte, a elevação de não responder à medida da gravidade de tais impropérios, vislumbro em si estupefacto, a manutenção de uma linha discursiva tendente à descredibilizar a todos, com um culto a si, recorrendo a um tal eu,eu, eu intragável até à exaustão sobre o que fez e o que outros não fizeram (isso sim é não lavar a roupa suja entre muros), mas também enfraquecendo a própria organização de que se diz Presidente (uma qualidade exige-se muita contenção), pelo que ocorre-me lembrar o dito popular: “Rei fraco, torna fraca forte gente”; 3. Esse tal eu, eu e eu que nos faz pensar que temos tudo controlado, que somos os maiores, não somos “maricas”, …é… Um eu que não consegue decifrar a linha fina (ténue diria), entre coragem e ingenuidade, medo e prudência, acção e contenção, humildade e arrogância, enfim, bravura sem discernimento; 4. Um tal eu, tentando dar um passo maior que a própria perna em busca de protagonismo individual; um eu que se funda, se fecha e afunda em si mesmo, que inviabiliza a capacidade de se auto avaliar corretamente e deixar-se avaliar; que esquece que a melhor ideia que cada um deve ter é estar aberto a receber novas ideias; esta postura que se assemelha ao “síndrome de Gabriela” (eu sou assim, nasci assim, serei sempre assim) não mudo de ideias, sou excessivamente irreverente, (diria eu e peço desculpas se tanto intransigente), não é e não pode ser benéfica para a nossa organização; 5. Já se percebeu que, nenhum de nós se tem concentrado excessivamente, nos aspectos do passado excepto o Dr., pois entendemos, e o afirmamos nas nossas anteriores abordagens, devia ser tratado em forúm próprio, concentrando-nos sim, no presente (tentar tapar os furos que foram entretanto abertos, ou seja, defender a democracia interna) com um olhar atento no futuro, facto que tem deliberadamente evitado; é claro que não há “virgens púdicas” em todo este processo, desde já, o nosso afastamento às tarefas inerentes à Associação, não pelas razões que tem vindo a debitar, mas sim pela mobilidade laboral a que todos fomos sujeitos e também pela falta de comunicação regular; Assim sendo, e voltando à “Vaca fria”, quero dizer, que quanto a mim, o direito à manifestações, como de resto, tenho reiteradas vezes asseverado, não é, nunca foi o nosso pomo de discórdia. Portanto considero mais um excesso o termo satânico escolhido; Suponho ter sido bastante elucidativo na minha última abordagem quando deslindei as diferenças entre aquelas que considero benéficas e frutuosas, daquelas que a meu ver, são sinónimo da baixa consciencialização e interpretação do conceito, peso e alcance da cidadania responsável; e portanto, creio que os bispos que tem vindo repetidamente a citar, não estarão propriamente em desacordo com isso. Concordo com algumas asserções que fez, a questão está na forma como pensa realizá-las( aqui as nossas diferenças são insanáveis mesmo). Quanto a última questão que lhe dirigi, os bispos já responderam e a história também, quando o próprio papa condenou os actos violentos e as matanças havidas de parte à parte, nas primaveras árabes e que agora se aprestam a repetir-se. Pensar que só é revolucionário quem se manifesta (contra ou a favor) de quem quer que seja, e quem pensa diferente é maricas, ou espera um cargo político oferecido é no mínimo uma análise redutora e simplista eivada de conotações maliciosas. O que se quer é o respeito pela diferença, respeitando as normas das organizações como a nossa; nada mais honesto e coerente….! É “carroça a frente dos bois”, em minha opinião, quando colocamos a manifestação (contra ou a favor) antes da consciencialização sobre direitos e deveres, pois esta última seria o mote para uma manifestação com melhores desfechos. Nas suas palavras: “manifestar para consciencializar”, eu gostaria, se me permitisse, alterar a ordem das parcelas que não daria necessariamente, julgo eu, o mesmo resultado: “Consciencializar para manifestar-se com firmeza”. A menos que queiramos optar por uma via mais fácil, se pensarmos que manifestar vale para consciencializar o cidadão. Eu sinceramente considero que o trabalho da nossa associação é lavrar o caminho da consciencialização dos cidadãos em primeiro lugar. Marcar uma manifestação é o mais fácil, lança-se um comunicado, como de facto aconteceu, com todos os atropelos já aflorados noutros espaços, o resto paciência! Consciencializar, caro Dr. , remete o próprio cidadão, para uma análise profunda sobre o sentido, o alcance, os custos e benefícios pra si e para a comunidade de tal acto, ao mesmo tempo que impele as autoridades para uma posição incómoda diante de cidadãos tão maduros e cônscios dos seus direitos e deveres e por isso capazes de contrapor com argumentos válidos e firmes diante de qualquer manobra dilatória em detrimento das suas exigências. Dai que engajar os órgãos de defesa e segurança nesta empreitada é no mínimo pouco zeloso no actual contexto. Noutros contextos, em democracias mais maduras e com níveis de consciencialização dos direitos e deveres, com graus de escolarização (que é importante ter em conta), acima da média, como os exemplos que aduziu (Portugal e Brasil), é possível obter os resultados sem comprometer a paz social, embora no Brasil tenham sido colocados em causa direitos de outros, como pude aperceber-me; Por isso coloco-me a questionar se queremos apenas fazer uma cópia pura e simples, sem analisarmos as variáveis e os contextos envolvidos? Penso que devemos ser prudentes quando o fazemos. A outra questão, da nossa divergência, prende-se com a certeza que o Dr. manifesta quanto ao caminho que está a seguir, que respeito embora não concorde. Diz um provérbio Chinês que “ nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho”. Seria bom certificar em cada momento, se estamos realmente a chegar ao destino, e portanto verificar e controlar os sinais que podem clarificar-nos sobre o rumo certo. Algumas pessoas que tem citado, como Luther King, têm uma história invejável, nobre, mas própria, que não começou com as manifestações; começou aliás, com uma vida de trabalho e luta como pastor, onde granjeou notoriedade, onde inspirou outros cidadãos, onde se catapultou para o respeito das autoridades, onde lançou as primeiras ideias sobre o movimento, e para concluír, onde colheu o amparo incondicional dos seus, ou seja, fincou-os olhos nos olhos a fim de lhe declararem apoio irrestrito. Em outras palavras, inspirar as pessoas, para que possam sob sua direcção, aspirar a vencer as adversidades inerentes. A humildade é outra qualidade que se exige aos líderes, a par da coragem, da capacidade de antecipar-se aos obstáculos e vislumbrar um caminho e uma solução airosa; tem igualmente de ter foco e não disparar para todas as direcções. Não pode é, guiar-se como se estivesse numa sala escura cheia de móveis e atrolpelá-los a todos. Gostaria muito de poder continuar a ouvir as suas ideias e debitar as minhas neste nosso diálogo, mas se o “retumbante Eu” persistir, então julgo terá sido esta a minha última palvara sobre o assunto neste espaço. Saúde, paz e serenidade meu caro amigo.